Crítica: Trinca de Ases: Emoção e surpresas dominam primeiro encontro de "Trinca de Ases"
A guitarra de Gil solta alguns acordes até então inexpressivos. O tempo,
entretanto, converte a modéstia do mestre numa força nunca vista antes.
Gal, no centro dos holofotes, dispara o canto perfeito e afinado em
direção a algo que nem ela mesma sabe definir. Nando dedilha seu violão e
esboça um sorriso de contentamento. A felicidade de estar ao lado dos
ídolos torna sua música voraz e impactante.
O que se viu na noite desta sexta-feira, 4, no Citibank
Hall, na zona sul de São Paulo, foi a melhor combinação já vista ao vivo
na história recente da música popular brasileira. O caleidoscópio
sonoro de Gil, Gal e Nando encantou o público que lotou o local e viu de perto três ícones da MPB em alto nível.
O destaque da performance do Trinca de Ases foi a homenagem ao cantor Luiz Melodia,
que morreu nesta sexta, 4, vítima de câncer na medula. "Essa é uma
homenagem a Luiz Melodia, que nos deixou hoje. Ele era um cara que eu
amava demais. Ensaiamos a música nesta tarde", disse Gal visivelmente
emocionada. Pérola Negra, maior sucesso do cantor e compositor
carioca, ganhou uma roupagem nova. Nando e Gal dividiram os vocais
enquanto Gil dedilhou a canção. A emoção falou mais alto.
Muitas foram as partes emocionantes da apresentação, que
contou com momentos intercalados. Das combinações entre os três,
passando por dobradinhas, o repertório foi rico em hits e incluiu
algumas canções não cantadas nos shows individuais do power trio. Ela, de Gil, e Dois Rios, famosa na voz do Skank, de Nando Reis, surpreenderam.
Não há quem não tenha se arrepiado ao ouvir Gal interpretando Espatódea, de Nando Reis. A homenagem do ex-Titã à filha Zoé arrancou lágrimas até mesmo dos mais durões. A versão de Copo Vazio, de Chico Buarque, também emocionou. A música uniu três vozes até então incompatíveis.
O show do Trinca de Ases juntou ingredientes poderosos. O
violão imponente de Gil somado à voz de trovão de Gal Costa e a vibe pop
de Nando funcionou quase que instantaneamente. Faltou, entretanto, um
boom, um momento derradeiro. O clímax até poderia ter surgido no bis,
mas derrapou. Barato Total, que encerrou a performance, serviu
para deixar aquele gostinho de quero mais. Quando se esperava por mais
duas ou três músicas, elas não vieram. Ficou no quase.
A imagem de Nando cantando Esotérico e Gal esboçando as estrofes de All Star
ficarão marcadas por toda a eternidade. Neste sábado, 5, tem mais. Gil,
Gal e Nando voltam ao palco para o segundo show em São Paulo, no mesmo
Citibank Hall. Depois, seguem em turnê, pelo menos até o fim deste ano,
com apresentações já confirmadas no Rio, nos dias 11 e 12 de agosto;
Fortaleza, em 16 de setembro; Recife, em 11 de outubro; e Porto Alegre,
em 19 de outubrO.
Estado de São Paulo - João Paulo Carvalho - 05 de agosto de 2017
Será que a voz cristalina de Gal combina com o som de um trovão? Em todo caso,muito boa a resenha do show.
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