Texto de Caetano Veloso - Flor do Cerrado - 1982
Quando conheci Gal (através de Dedé), em 1964, disse a ela que a considerava a maior cantora do Brasil. Nunca mudei de opinião, embora tenha deixado de pensar em quem é a maior. O que importa é que Gal porta o espírito do som. Não se trata de afinação precisa (Jane Duboc), nem do domínio musical (Elis Regina), nem de potência expressiva (Maria Behânia); quando se trata de Gal Costa, o assunto e qualidade musical da qualidade do som. Tal pessoa assim, misteriosamente abençoada teria de fazer presença marcante e até mesmo escandalosa no ambiente que por destino a acolhesse. assim é, que no Brasil, Gal virou sinônimo de modernidade, apelido de acidente geográfico, repositório de esperanças, belo demônio ameaçador. "As Dunas do Barato" eram da Gal, a coragem sensual, a embriagues, a expectativa de uma liderança, a essência da grandeza de Gal. Tudo isso, para mim, foram apenas modos mais ou menos desajeitados de as pessoas (e, por vezes, ela própria) entrarem na grandeza da ...