Disco: Profana. "A Gal da alegria

foto: Luiz Carlos David

Em "Profana", a cantora volta aos ritmos quentes

Foliões e roqueiros que se preparem: chegou o fim da fase Dolores Duran de Gal Costa. Em 1983, ainda que o maior sucesso de Gal tenha sido a irreverente "Rumba Louca", o que prevaleceu em seu trabalho foram as canções românticas, as vezes de clima sofrido, que a aproximaram do estilo da grande cantora dos anos 50. Em "Profana", o novo LP de Gal que chega às lojas esta semana, volta à cena a intérprete esfuziante e brincalhona. As canções românticas ocupam apenas duas das doze faixas do LP, dominado por baiões, frevos, rocks e marchas carnavalescas. A técnica apuradíssima de Gal volta a ser exercitada nas regiões mais agudas da escala musical. O resultado é um LP com muita alegria que lembra a cantora do "Gal Tropical", disco de 1979 e que surge com seu melhor trabalho desde "Fantasia", de 1981.

O carro-chefe dessa fase eufórica de Gal é a marcha "Onde Está  Dinheiro", um sucesso de Aurora Miranda no carnaval de 1937, já maciçamente executada nas rádios na nova versão de Gal. Pode-se apostar que "Onde Está o Dinheiro" empolgará os foliões do carnaval de 1985, mas, não se trata de um grande momento do disco. Sua letra continua atual, comentando as falcatruas reinantes no país nos últimos anos, mas trata-se de uma marchinha banal. Onde a folia de Gal pega fogo é na deliciosa sequência de baiões que incluem "Cabeça Feita, Tililingo e Tem Pouca Diferença", este último um típico baião de letra maliciosa em que Gal faz dueto com Luiz Gonzaga. E também nos frevos, como "Atrás da Luminosidade", apresentados com arranjos que o tornam atraentes e vibrantes também fora do espírito carnavalesco. Mas nem só de música nordestina vive a fase alegre de Gal.

Em "Profana", Gal Costa investe-se de um personagem que há anos não visitava: a intérprete de canções de ritmo híbrido que desfilam imagens tipicamente urbanas. É esse o clima da melhor faixa do disco. "Vaca Profana", de Caetano Veloso, um vertiginoso aglomerado de imagens ligada a várias capitais do mundo. E também no rock "O Revólver do Meu Sonho", uma inesperada parceria entre Gilberto Gil, o poeta baiano Waly Salomão e Roberto Frejat, guitarrista do grupo carioca Barão Vermelho.


"Acho que retomei, em alguns momentos do disco, o clima da tropicália", pondera Gal. De fato,"Profana", traz à lembrança a Gal do início dos anos 70. "Dona de divinas tetas/Derramo o leite bom na minha cara/E o leite mal na cara dos caretas", canta ela em "Vaca Profana" - um refrão que poderia ter saído dos arquivos do tropicalismo. Em "Profana", enfim, Gal Costa fez um bom disco sem precisar se aventurar pelo desconhecido. Como outras cantoras de sucesso, ela monta seu repertório entre os grandes compositores do país. Da mesma forma, prefere arranjos tradicionalistas. Mas Gal tem dois segredos para evitar a repetição anual do mesmo disco. Primeiro, ela escolhe as canções mais originais dos grandes compositores e não aquelas já previsíveis. O segundo segredo, é claro, é a voz: Gal se confirma a cada ano, no posto de melhor cantora do país.

Revista Veja - Okky de Souza - 14 de novembro de 1984.

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