Texto de Caetano Veloso - Flor do Cerrado - 1982



Quando conheci Gal (através de Dedé), em 1964, disse a ela que a considerava a maior cantora do Brasil. Nunca mudei de opinião, embora tenha deixado de pensar em quem é a maior. O que importa é que Gal porta o espírito do som. Não se trata de afinação precisa (Jane Duboc), nem do domínio musical (Elis Regina), nem de potência expressiva (Maria Behânia); quando se trata de Gal Costa, o assunto e qualidade musical da qualidade do som. Tal pessoa assim, misteriosamente abençoada teria de fazer presença marcante e até mesmo escandalosa no ambiente que por destino a acolhesse. assim é, que no Brasil, Gal virou sinônimo de modernidade, apelido de acidente geográfico, repositório de esperanças, belo demônio ameaçador. "As Dunas do Barato" eram da Gal, a coragem sensual, a embriagues, a expectativa de uma liderança, a essência da grandeza de Gal. Tudo isso, para mim, foram apenas modos mais ou menos desajeitados de as pessoas (e, por vezes, ela própria) entrarem na grandeza da essência de Gal.

Também assim todas as variações por que passou seu estilo através desses anos (da emissão "lisa", sem vibrato no grito distorcido da menina roqueira americana que queria imitar os negros, do culto da emoção expressionista ao brilho estridente da festa) e eu não vejo senão a mesma para mudar os sons. O som que já é música sem que se mande fazer muita música, a extraordinária técnica de respiração intuídos, a absoluta ausência se desfazem. Na verdade pode-se dizer que às vezes (e porque ninguém está à altura de si mesmo) Gal se esforça para fingir que faz esforço.

Mas nada atinge o que eu sei que ela sabe que eu sei ( o que nos deixa pessoalmente tímidos um na frente do outro) e aquilo indizível que, quando ela e eu nos vimos pela primeira vez, tinha o nome próprio e único de João Gilberto.

Caetano Veloso - 1982

A caixa "Flor do Cerrado, foi lançada em 1982, pela Polygram, e copila a discografia de Gal de "Domingo" (1967)  a "Fantasia (1982), com algumas raridades lançadas apenas em discos coletivos e compactos como "Estamos Aí" (do disco "O Carnaval Chegou-1972"), "Saia do Caminho (Ao Vivo) (do compacto simples de 1974), "Teco-Teco" (do compacto duplo de 1975) e "Acontece (Ao Vivo) (do coletivo "Temporada de Verão" de 1974).
A caixa foi dividida em 4 temas:

Disco 1 - Nas Trincheira da Alegria
Lado A - 
01 - Festa do Interior
02 - Cinema Olympia
03 - Balancê
04 - Massa Real
05 - Deixa Sangrar
06 - Estamos Aí

Lado B - 
01 -Olhos Verdes
02 - É Luxo Só
03 - Faceira
04 - Samba Rasgado
05 -  Teco Teco
06 - Que Pena - Com Caetano Veloso

Disco 2 - Bem Sei Que Te Amo
Lado A
01 - Coração Vagabundo (Ao Vivo)
02 - Meu Bem, Meu Mal
03 - Folhetim
04 - Volta
05 - Até Quem Sabe
06 - Pois é
07 - Nem Eu

Labo B - 
01 - Avarandado - Com Caetano Veloso
02 - Minha Senhora - Com Caetano Veloso
03 - Só Louco
04 - Acontece (Ao Vivo)
05 - Candeias
06 - O Amor
07 - Canção Que Morre no Ar

Disco 3 - Um Gosto Gostoso de Mel
Lado A
01 - Meu Nome é Gal
02 - Pérola Negra (Ao Vivo)
03 - Paula e Bebeto
04 - Baby - Com Caetano Veloso
05 - Divino Maravilho
06 - Se Você Pensa
07 - Força Estranha

Lado B
01 - Tigresa
02 - India
03 - Sua Estupidez
04 - Como Dois e Dois (Ao Vivo)
05 - Não Identificado
06 - Barato Total
07 - Juventude Transviada

Disco 4 - Onde o Azul é Mais Azul
Lado A
01 - Canta Brasil
02 - Camisa Amarela
03 - Vatapá
04 - Folha Morta
05 - São Salvador
06 - NO Tabuleiro da Baiana - Com Caetano Veloso
07 - Falsa Baiana

Lado B
01 - Aquarela do Brasil
02 - Tú
03 - Saia do Caminho (Ao Vivo)
04 - Jogada Pelo Mundo
05 - Um Favor (Ao Vivo)


Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Gal Costa - Trilhas de Novelas - Anos 80

Revista: A Estrela Nua

Gal Costa - Trilhas de Novelas - Anos 2010/2020