Personalidade - 1989


Meu vento doce. Foi assim que uma criança, certa vez, definiu a voz de Maria das Graças Penna Costa Burgos, baiana, verdadeira bênção para quem a conhece. Um dia, porém, anunciou aos quatro ventos: "Meu Nome é Gal". Mas já havia incendiado os Festivais da Record com seu talento - não a esqueço com roupas de pedaços de espelhos, muitas cores, cabelos encaracolados, entrando no restaurante paulista Patachu, em plena Rua Augusta, depois de ter cantado "Divino Maravilhoso", provocando espanto em algumas senhoras. Ou quando saía da Avenida São Luiz, onde morava, indo a pé até o Teatro de Arena, passando pela Ipiranga, depois do cruzamento com a São João, aquela avenida corcunda, para fazer seu primeiro show, onde também tocava guitarra, não dispensava a iluminação de Antonio Peticov, hoje consagrado artista plástico. Um grande sucesso. E depois, com o exílio forçado de Caetano e Gil, transformou-se na porta-voz mais importante da música daqueles anos de repressão.
Ela sempre surpreende. em meio a luzes, cores, palcos e estúdios essa mulher sensual mantém sua carreira em contínuo movimento. Já no rio, deu nome a dunas, estes montes de areia regidos pelo vento. Neste raro instrumento, cabem todos os rimos e sentimentos. Verdadeiro "Barato Total". Na sua garganta músicas se transformam, depuradas como finos vinhos que encontram o cristal perfeito para tomarem sua forma e ser saboreadas. Para sempre fatal, mulher de todas as épocas.
Assim, ela pode reapresentar Ary Barroso, a quem já cantou em LP, revirar o riquíssimo tesouro de Dorival Caymmi, verdadeiro orixá da música, com quem já dividiu show e cantou em disco, reencontrar antiga música de João de Barro e Alberto Ribeiro, "Balancê", ou regravar um antigo sucesso de Ademilde Fonseca, "Teco Teco", dominando como ninguém um bom frevo, "Pegando Fogo". Gal é regida pela força estranha que guia os verdadeiros intérpretes e, sem temor, faz de "Índia", antiga guarânia, belíssimo momento de rara voz. Evidentemente que não poderiam faltar João Donato, Caetano, Gil. E outra vez deixa sua marca em "Faltando Um Pedaço", de Djavan, e no balanço de Jorge Ben Jor.
Gal é tudo isso e muito mais, como que regida pelo eterno Deus Mu Dança,com a licença de Gil. essa voz de todos os tempos transforma a tudo e a todos em que toca, como um vento doce soprando no coração do povo.

Arhur Laranjeira

Repertório:

01 - Meu Nome é Gal (Erasmo Carlos e Roberto Carlos)
02 - Flor de Maracujá (João Donato e Lysias Ênio)
03 - Faceira (Ary Barroso)
04 - Teco-Teco (Pereira ad Costa e Milton Vilela)
05 - Índia (J.a. Flores/M.O. Guerreiro/Versão: José Fortuna)
06 - Força Estranha (Caetano Veloso)
07 - Que Pena (Jorge Ben Jor ) - Com Caetano Veloso
08 - Eternamente (Tunai, Liliane e Sérgio Natureza)
09 - Barato Total (Gilberto Gil)
10 - Só Louco (Dorival Caymmi)
11 - Sim ou Não (Djavan)
12 - Tigresa (Caetano Veloso)
13 - Faltando um Pedaço (Djavan)
14 - Canta Brasil (David Nasser e Alcir Pires Vermelho)
15 - Balancê (João de Barro e Alberto Ribeiro)
16 - Pegando Fogo ( José Maria de Abreu e Francisco Mattoso)

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