Disco: Acústico MTV: A mais completa intérprete do país


Considerando como de estreia o LP "Domingo", dividido com Caetano Veloso, em 1967, Gal Costa comemora 30 anos de carreira no projeto "Acústico MTV" (BMG), constituído de vídeo, disco e uma sequência de shows que começa sexta-feira em Belo Horizonte. Trata-se de uma comemoração suntuosa, uma espécie de moldura de medalha, como a que já condecorou em projetos semelhantes Milton Nascimento e Caetano Veloso.

Tanto no vídeo quanto na seleção do CD (que exclui alguns números importantes como "Vaca Profana", "O Amor" e "Força Estranha"), a cantora confirma o posto de mais completa interprete do país. Do protótipo pop ("Baby" com entorno de sax e violinos) à balada rock ("Não Identificado"), passando pelo picotado samba choro ("Teco Teco"), e pelo samba sincopado ("Falsa Baiana") ou o samba canção pré-bossa ("Só Louco") nada escapa ao cristal vocal polidor de pérolas. Inclusive a "Pérola Negra", de Luiz Melodia, num dueto de gingas, vozes e vestes escuras - nas belas tomadas da MTV que a emissora mostra hoje.
Há outros diálogos vocais. O recente Zeca Baleiro - à vontade no banquinho em frente ao que a cantora ocupa durante quase todo o especial - contrapõe sua "À Flor da Pele" à setentista "Vapor Barato", de novo em voga. Um Frejat meio deslocado divide com Gal "Paula e Bebeto". Herbert Vianna assessora na (sua, dele) obra-prima paralâmica "Lanterna dos Afogados". Incluindo essa balada em seu colar de pérolas rebrilhantes, Gal só lhe faz justiça. Assim como o contraritmo nervoso de "Barato Total", as cadentes entrelinhas de "Você Não Entende Nada" e a placidez de "Camisa Amarela" balizam as latitudes de seu (s) canto (s), ainda que soe redundante terminar o banquete numa "Aquarela do Brasil" que frequenta apoteoses desde Francisco Alves e Radamés Gnatalli.

À altura do mestre gaúcho, as orquestrações buriladas de Wagner Tiso fornecem um raro exemplo de arranjador que trabalha moldura de cordas (20 violinos, 6 violas, 6 cellos, da Orquestra Petrobrás Pró Música) sem apelo ao pomposo e/ou circunstancial. Invés do sax de cores ácidas de Kenny G que chegou a ser cogitado, cabe aos sopros de Zé Canuto terçar timbres com a garganta de Gal. E essa é uma orquestra à parte.

Tárik de Souza - Jornal do Brasil - Novembro de 1997

Comentários

  1. Tárik de Souza,um dos meus críticos favoritos,sabe tudo.

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  2. Detestei os arranjos deste disco: barrocos , que a deixaram engessada.

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