Crítica: Show "Baby Gal" - Gal, delícias e delírios

Foto: Rogério Carneiro
Para Gal Costa, bastava ocupar o palco com um banquinho e um violão e deixar que o cristal que mora em sua garganta garantisse um bom programa. Mas ela costuma querer mais e, às vezes, como no desastrado "Fantasia" de dois anos trás, os enfeites que a acompanham só atrapalham. Agora, porém, ela se cercou de uma produção requintada - a direção geral é de Aloysio Legey e Walter Lacet, a mesma dupla dos musicais da Rede Globo - para realizar o melhor espetáculo de sua carreira. Mas profissional que o antológico "Gal a Todo Vapor", mais maduro que o bem-sucedido "Gal Tropical", este "Baby Gal" encanta por mostrar que a maior cantora do país ainda está em evolução.

Mais bonita,mais magra e mais bem vestida do que em sua última aparição na TV, em especial da Globo, ano passado, Gal também está mais atriz que em seus shows anteriores. É assim que ela dá vida nova a canções que pareciam desgastada. A "Dora" de Dorival Caymmi que abre o espetáculo ganha uma dramaticidade sutil que ainda não havia sido percebida. Gal passa do tom épico que fornece a "Paula e Bebeto", de Caetano Veloso e Milton Nascimento, ao toque deliciosamente malicioso de uma série de xaxados de Jackson do Pandeiro. sabe ainda ser suave e romântica na bonita "Eternamente", de Tunai e - surpresa para os saudosistas - faz o que quer com o corpo e a voz, relembrando os tempos que foi musa do Udigrudi, ao revelar a interpretação definitiva de "Bem Me Quer", de Ria Lee e Roberto de Carvalho - uma aula para os roqueiros da nova geração.

É um espetáculo de concepção simples, mas produção sofisticada. Sem cenários, a ambientação é criada pela iluminação genial do veterano Peter Gasper, que cobre o palco de azul, constrói uma floresta de bananeiras, reproduz todo um ciclo solar apenas com jogos de luzes, também, ele transforma o Canecão num circo onírico para Gal interpretar, com a ajuda da plateia, a esquecida "Lili", versão de Haroldo Barbosa para a música do filme famoso com Leslie Caron. É um momento de pura magia. Aquela magia que só os espetáculos inesquecíveis sabem proporcionar.

O roteiro musical pretende apenas demonstrar a versatilidade da estrela e é espertamente balanceado, a ponto de disfarçar a fragilidade do último LP da cantora. O único deslize é a inclusão de três hits carnavalescos (Pegando Fogo, Bloco do Prazer e Grande Final) para fechar o show. Truque velho que não impressiona mais o público. Assim, o show só acaba mesmo quando Gal volta ao palco para bisar a balançante "Bem Me Quer".

Esse final manjado, no entanto, não diminui o brilho de uma espetáculo cujo maior mérito. afinal, não deve ser procurado na mostra de um repertório original. O novo show de Gal Costa emociona porque traz à cena um cantora madura que não se cansa de tentar vôos mais altos. Por isso "Baby Gal" é lindo.

Arhur Xexéo - Revista Isto É

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