Disco: "Todas as Coisas e Eu" - Diva à moda antiga


Alheia às cobranças para fazer um disco de repertório inédito, Gal Costa tem optado pela comodidade das regravações de sucessos. Às vezes com um sotaque mais pop, como seu ótimo CD anterior "Bossa Tropical". Às vezes com tom mais reverente, como seu songbook de Tom Jobim (1999) e como no novo disco "Todas as Coisas e Eu". Neste CD, que marca a estréia da cantora na gravadora Indie Records, Gal mergulha com sofisticação no cancioneiro do passado, regravando músicas lançadas entre os anos 20 e 70. A maioria do repertório é formada por sambas-canções gravados originalemnte nos anos 40 e 50, na fase pré-bossa nova.

"Todas as Coisas e Eu", é um disco de diva. Traz grandes canções na voz de grande cantora e está à altura do passado de Gal, embora não tenha obviamente o caráter ousado do começo de carreira da cantora. Os requintados arranjos de Eduardo Souto Neto e Julinho Teixeira combinam orquestra de cordas com o som dos antigos conjuntos regionais em voga na música brasileira da primeira metade do século passado. Com essa base, Gal evoca com sua voz cristalina cantoras como Dolores Duran ("Fim de Caso"), Elizete Cardoso ("Nossos Momentos") e Dalva de Oliveira ("Ave Maria do Morro").

A sonoridade quase uniforme do CD faz realçar o andamento abolerado de "Alguém Como Tú" e o acento  nordestino de "Kalu" e "Dono dos Teus Olhos", duas músicas de Humberto Teixeira, o nem sempre lembrado parceiro de Luiz Gonzaga. Os músicos do grupo carioca Abraçando Jacaré imprimem o sotaque do samba-choro "Linda Flor", "Nervos de Aço" e "Folhas Secas" - três destaques de um belo disco. Gal pode ser comodista na hora de garimpar repertório, mas "Todas as Coisas e Eu" é um título imponente na sua discografia pela beleza atemporal das músicas e arranjos.

Revista Isto É - 24/11/2003
Mauro Ferreira

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