Crítica: Recanto - Com licença, meu nome é Gal!



Sobre Gal, eu já queria ter falado aqui mesmo no blog desde o final do ano passado. Afinal, é desde essa época que o refrão infinito de “Neguinho” se instalou na minha cabeça como um daqueles zumbidos que músicos de idade avançada reclamam que não sai de seus ouvidos. Porém, ao contrário de causar desconforto, a batida mínima com a voz máxima de Gal repetindo “Rei, rei, neguinho é rei” é um oásis tranquilizador para onde minha atenção vaga quando sente a falta de alguma música. Essa, claro, é apenas uma das faixas inacreditavelmente frescas de “Recanto” – seu primeiro álbum em seis anos. Eu queria ter escrito sobre ele logo em seguida de seu lançamento – mas acabei perdendo o bonde… Porém, encontrei um novo gancho quando, há poucos dias, fui conferir seu “pocket show”, no Rio de Janeiro.

Acho que a última vez em que eu havia visto Gal no palco era num daqueles esquemas de grandes casas de show. A artista que vi entrar no pequeno espaço de uma nova casa no Rio não poderia estar mais distante dessa lembrança. No lugar de uma “banda grande”, ela veio com uma “grande banda” – econômica: Pedro Baby, Domenico Lancelotti e Bruno Di Lulo. Para que mais? Com aqueles poucos instrumentos e uma inspiração renovada, Gal desfilou várias músicas de “Recanto” e ainda revisitou clássicos como “Divino maravilhoso” e “Vapor barato”. O resultado? Nirvana!

Como descrever a emoção de ver uma mulher daquela – uma senhora, se você preferir – encarando um público de uma maneira tão ousada, quase que reeducando o gosto de seus fãs (e contrariando o gosto previsível de quem muitas vezes não quer ver seu artista favorito inovar)? Com franqueza. Gal está longe de seu apogeu vocal? E daí? Energia eu não vi faltar naquele palco. Nem curiosidade. Mais do que tudo – e de certa maneira, um pouco como Madonna – o que ela oferece (com o disco e com o show) é um bom de um “cala a boca” para quem tem a ousadia de sugerir que é ela que deveria calar a boca. “Você acha que eu deveria ficar quieta em casa?” – ela parece perguntar. “Com licença, eu vou em frente” – parece ser a sua resposta. Ou melhor, ela nem precisa pedir licença… Vai Gal! Vai que eu vou junto!

Zeca Camargo

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