Disco: "Baby Gal" - “Baby Gal” nasceu com a Tropicália
Em novembro de 1968, os que conseguiram chegar até
a porta e entrar, na extinta casa noturna Sucata, para ver Caetano Veloso e Os
Mutantes, mal puderam ouvir a declaração de amor de Caetano a Gal Costa, que
João Gilberto dizia ser a maior cantora do Brasil.
“I
love you, Gal Costa/ Baby, baby, baby…” A simples menção de “Baby” e do nome Gal Costa
deleitou a plateia, ainda embriagada pelo novo som e imagem propostos pelo tropicalismo.
A canção “Baby”, de Caetano, gravada por Gal Costa no LP “Tropicália” (julho de
1968), com arranjo de Rogério Duprat, saiu da Tropicália para entrar na história
da música popular como canção hino de toda uma geração.
Quinze anos se passaram e “Baby” está de volta
recriada por Gal no LP “Baby Gal”. “Não foi a nossa intenção – diz a cantora –
comemorar os 15 anos do tropicalismo. Mas já que aconteceu, fico feliz, e posso
dizer que “Baby Gal” só foi possível por causa da Tropicália. Por tudo o que o
movimento representou para a minha carreira e para o meu crescimento individual”.
Mariozinho Rocha – que pela terceira ver
consecutiva produz Gal – LPs “Fantasia” (1981), “Minha voz” (1982) e Baby Gal
(1983) – trouxe a ideia de regravar “Baby” e de dar um tratamento eletrônico ao
disco. “Não
tem explicação”, ele explica. Apenas “feeling” e vontade de fazer um disco
usando as combinações de sons que o eletrônico oferece. Não existe pecado
nenhum em só usar o acústico, como não é pecado usar só o eletrônico. Trabalhamos
com pessoas que conhecem profundamente o acústico. O César (Camargo Mariano) e
o Eduardinho (Souto Neto) não são maestros de proveta. Quando você usa o eletrônico
a serviço da música o rendimento é excepcional. “Baby Gal” não é vanguardista,
é um disco ousado, como tem sido a carreira de Gal desde o início.
Gal acha esse seu 17º LP – “um disco comum – com
arranjos muito bonitos, de uma cantora que está cantando aquilo que gosta. Como
todos os meus discos, “Baby Gal” tem um quê tropical pela diversidade de
ritmos. Tem “Eternamente”, uma canção emocionante do Tunai, Sérgio Natureza e
Liliane; tem “Baby”, que ganhou um arranjo futurista; tem “Mil Perdões”, que é
um blues inédito do Chico; tem a marcha pop do Moraes, “Grande Final” – feita
para o especial da Globo “A Turma do Pererê”; tem “Rumba Louca”, uma rumba
super gostosa do Moacyr Albuquerque e Tavinho Paes; duas do Djavan, “Sim ou Não” e “De Flor em Flor”, que a gente gravou como bossa nova (acho legal
registrar a bossa nova, é a minha origem e acho que sei fazer bem); um samba
afro do Gil, “Bahia de Todas as Contas”; um brilho do Caetano, de parceria com
o Vinicius Cantuária, “Sutis Diferenças”; e “Olhos do Coração”, uma música meio
negra do Tunai. São dez músicas que falam de amor”.
Na opinião de Mariozinho Rocha, o ponto alto de
“Baby Gal” não é o repertório, não são os arranjos nem a produção, mas a voz, a
maneira como ela está cantando. É o LP que ela está cantando melhor. “Eu levei
um susto. Gal dá uma aula de afinação, de divisão e prova ser a cantora
brasileira de maior extensão vocal. A faixa “Eternamente” está aí para quem
quiser conferir. Qualquer pessoa que pretenda iniciar uma carreira de cantor
tem que ter esse disco de Gal para saber se deve ir em frente ou não”.
Victor Rabello - O Fluminense/RJ, 08/01/84.
Enviado Por Tiago Marques
Enfim uma resenha que destaca ''Eternamente'',linda mesmo.
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