Postagens

Pequeno texto de Ronaldo Bastos para o programa do show "Gal In Concert"

Imagem
Sou de uma época que Tudo era Gal. Antes de conhecer a pessoa, muito do que é Gal, se filtrava através da luz solar e cristalina que é a voz de Gal; em "Domingo" com Caetano, no primeiro disco solo, palavra por palavra, em Londres com Antonio e Paulo Jobim; Gal no trem azul pelo mundo afora: "Ela já não é mais a minha pequena, que pena, que pena". Os anos 70 não existiriam sem as dunas do barato de Gal. Só quem ouvia a modernidade chegar na cartarse da voz de Gal em "Divino Maravilhoso, viveu. Quem não ouviu "Gal canta Caymmi", não viveu. Hoje em dia entre tantas pessoas que me fazem falta, tenho o privilégio da pessoa bonita, tranquila, gostosa e simples da minha amiga Gal Costa. Ronaldo Bastos - Rio de Janeiro - 1987

Crítica: Recanto: Outro tempo, outro nível, outra história...

Imagem
“Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista, o tempo não pára e no entanto ele nunca envelhece”. Quem esteve domingo no Parque da Juventude em São Paulo,  na estreia do show Recanto, de Gal Gosta, se emocionou (muito) ao ver a cantora, 65 anos proferir essa frase. Muitos aplaudiram. A cantora estava  com sua banda formada por jovens bacanas, cantando lindamente, improvisando passos de funk , flertando com a música eletrônica e mostrando que sim, tem artista que nunca envelhece. “A vida é amiga da arte”. Ouvir a própria Gal cantando aquilo ( parece que ela nunca cantou tão bem) foi de fazer chorar. Eu chorei. Voltamos para casa felizes. Pensando que é, sim, possível envelhecer e continuar “jovem” de alma. “Quando eu crescer, quero envelhecer como os tropicalistas”, falávamos.  Domingo no parque. Todo mundo feliz e emocionado. O tempo não é, como nos dizem o tempo todo em propagandas de creme “anti-age”, um senhor malvado. Gal mostra isso no disco. E na a

Crítica: Recanto - Com licença, meu nome é Gal!

Imagem
Sobre Gal, eu já queria ter falado aqui mesmo no blog desde o final do ano passado. Afinal, é desde essa época que o refrão infinito de “Neguinho” se instalou na minha cabeça como um daqueles zumbidos que músicos de idade avançada reclamam que não sai de seus ouvidos. Porém, ao contrário de causar desconforto, a batida mínima com a voz máxima de Gal repetindo “Rei, rei, neguinho é rei” é um oásis tranquilizador para onde minha atenção vaga quando sente a falta de alguma música. Essa, claro, é apenas uma das faixas inacreditavelmente frescas de “Recanto” – seu primeiro álbum em seis anos. Eu queria ter escrito sobre ele logo em seguida de seu lançamento – mas acabei perdendo o bonde… Porém, encontrei um novo gancho quando, há poucos dias, fui conferir seu “pocket show”, no Rio de Janeiro. Acho que a última vez em que eu havia visto Gal no palco era num daqueles esquemas de grandes casas de show. A artista que vi entrar no pequeno espaço de uma nova casa no Rio nã

Crítica: Recanto - Para não esquecer

Imagem
“Recanto” poderia ser o novo disco de Caetano Veloso, a diferença está na voz. A grande voz de Gal Costa. Essa cantora, que no início de sua carreira esteve ao lado de visionários que elevaram sua garganta privilegiada ao posto supremo da música brasileira e que anos mais tarde, já dona de suas escolhas, comprometeu seu passado de glória com breguices e repetições, está de volta ao lugar de onde nunca deveria ter saído: a casa das mais belas, transgressoras e sofisticadas canções. Meu coração oscila e palpita quando ouço Gal Costa. Tem dias que sinto vergonha de tanta paixão. Tem horas que tenho vontade de apagar o meu HD e ficar somente com sua discografia essencial. No momento em que escrevo esse texto estou na segunda alternativa. Quem pode alcançar notas tão agudas sem ferir ouvidos mais atentos ? Quem consegue se manter musa intocável durante todos esses anos e ser a referência principal de Marisas, Marinas, Robertas e  Vanessas ? Somente Gal. Para sempr

Crítica: Espelho D'Água: Gal Costa, com a essência do tropicalismo

Imagem
  Foto: P. Pidal / AFV Show: Espelho d'Água Gal Costa (Voz) Guilherme Monteiro (violões e guitarras) Teatro Gran Rex (Argentina) Opinião: Muito bom Gal Costa tem uma força estranha. Pode cantar uma refinada bossa "Coração Vagabundo" e no momento seguinte, transformar-se e fazer experimentações em "Tuareg". As dobras de sua voz encarnam um dos mistérios da música popular brasileira. Gal é samba, pop, rock e é essencialmente tropicalista. Em seu show "Espelho d'Água", que veio apresentar no Teatro Grand Rex, a artista reflete um impulso vital e incansável como interprete. Com um repertório de vinte canções, que revê sua história, a cantora que cativou uma geração, encontra uma maneira diferente de se conectar com compositores como Caetano Veloso, Chico Buarque,  Jorge Ben Jor, Roberto e Erasmo Carlos e Lupicínio Rodrigues. Com um cenário minimalista, Gal mantém a tensão e o magnetismo em mais de duas horas, trazendo para o cent

Disco: Profana: Gal Costa retoma garra e ginga a todo vapor

Imagem
É a glória nas alturas: os agudos de Gal Costa - aqueles - estão voltando a arrepiar. Lá em cima, onde poucas vozes da MPB conseguem se sentir confortáveis, ou eventualmente lá embaixo, onde o som sempre sai forçado. Gal anda barbarizando. E faz do seu décima sexto LP "Profana" (o primeiro pela RCA) uma retomada impressionante do velho pique, que angariou apaixonados dentro e fora do país. Já estava na hora. Apesar do apuro técnico crescente, Gal vinha de uma triste sucessão de discos frios e shows gelados, feito uma falsa baiana. Agora não: aos 39 anos, 20 de carreira, ela reúne garra e ginga suficientes para ficar entre as grande de novo. Com um repertório perfeito. Gal vai da canção chorosa "Nada Mais" - versão de Ronaldo Bastos para a balada "Lately", de Stevie Wonder - ao suingue djavanesco de "Topázio". Ok, ela ainda não se dá ao luxo de dispensar abolerados (como "Chuva de Prata" , de Ronaldo Bastos e Ed Wilson),

Disco: Acústico MTV: A mais completa intérprete do país

Imagem
Considerando como de estreia o LP "Domingo" , dividido com Caetano Veloso, em 1967, Gal Costa comemora 30 anos de carreira no projeto "Acústico MTV" (BMG), constituído de vídeo, disco e uma sequência de shows que começa sexta-feira em Belo Horizonte. Trata-se de uma comemoração suntuosa, uma espécie de moldura de medalha, como a que já condecorou em projetos semelhantes Milton Nascimento e Caetano Veloso. Tanto no vídeo quanto na seleção do CD (que exclui alguns números importantes como "Vaca Profana" , "O Amor" e "Força Estranha" ), a cantora confirma o posto de mais completa interprete do país. Do protótipo pop ( "Baby" com entorno de sax e violinos) à balada rock ( "Não Identificado" ), passando pelo picotado samba choro ( "Teco Teco" ), e pelo samba sincopado ( "Falsa Baiana" ) ou o samba canção pré-bossa ( "Só Louco" ) nada escapa ao cristal vocal polidor de pérolas. Inc