Entrevista: Requiem para Tom faz chorar


Fascinada com a nova casa em Trancoso, na Bahia, pra onde costuma viajar de um fôlego só a caminhonete Pajero com seus sete cães a bordo, Gal Costa pretendia descansar este ano. Mas gostou da proposta de Luiz Carlos Niemeyer, diretor de sua gravadora, a BMG-Ariola, para fazer um disco com repertório de Chico Buarque e Caetano Veloso. "Era uma oportunidade que sempre quis, não podia rejeitar", confessa. Quatro meses de gravações depois "Mina ´D'água do Meu Canto" entrou esta semana nas lojas com suas 17 faixas, oito regravações de cada autor e a inédita "Como Um Samba de Adeus", que chora Tom Jobim num suave requeim bossa nova.

"Caetano Veloso fez uma fita com três melodias diferentes e perguntou se eu tinha alguma preferência. O Chico fez a escolha e mandou a letra", rebobina Gal, que chorou ao ouvir o resultado final no estúdio. "Precisei de um tempo pra me recuperar e gravar a música", admite. O disco se transforma em recital a partir do próximo dia 12, com estreia no Teatro Castro Alves, em Salvador, e uma pequena turnê pelo Nordeste antes do ciclo exterior via Porto Rico, Estados Unidos e Europa. Só chega ao Canecão em novembro, dirigida por Hélio Eichbauer e Jaques Morelembaum, o maestro do disco.

A triagem inicial de Gal e Jaques filtrou 60 músicas da dupla e a cantora notou que as eleitas de Caetano concentravam-se num perfil excessivamente pop. Redistribuiu as escolhas mas ainda deixou muita coisa de fora. "Daria pra fazer dois CDs de cada um", calcula, defendendo-se das críticas pela preferência por repertório conhecido. "Se a Ella Fitzgerald, a Sarah Vaughan e o Frank Sinatra regravavam os mesmo clássicos de Cole Porter e George Gerswin e todo mundo elogiava, por que uma grande cantora brasileira não pode fazer o mesmo com os melhores daqui?", questiona. E enfileira autores que gostaria de revisitar entre recentes e antigos, de Paulinho da Viola, Assis Valente e Gilberto Gil a Dorival Caymmi, a quem já dedicou um LP.

"Para a gravadora, um disco como esse nem conta como de carreira, o contrato exige 60% de inéditas, e ainda devo dois para a BMG", contabiliza e recusa a tese da falta de autores novos na MPB. "Como estou trabalhando com um repertório fechado de poucos autores não recebo mais fits e nem tenho vontade de garimpar novidades", admite a cantora, que não interromperá a carreira com a mudança para Trancoso. "Quero aprender as lições do mestre Buda Nagô Caymmi. O contato com a natureza me energiza. preciso morar de frente para o mar", prega.

Tárik de Sousa - Jornal do Brasil - 6 de maio de 1995

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