Disco: Gal grava o 'som de hoje' sem descaracterizar seu canto cristalino
O tempo de Gal Costa voltou a ser hoje. Depois de quatro CDs sucessivos
com regravações de sucessos (alguns irretocáveis como o recente Todas as
Coisas e Eu), a cantora ensaia nova guinada em discografia que já soma
40 anos - seu primeiro compacto é de 1965. Hoje marca a estreia
de Gal na gravadora Trama e é um disco fresco, atual, como sugere seu título.
Fruto do encontro profissional da artista com o produtor César Camargo Mariano,
o CD aposta em compositores que militam à margem do mercado. Mas a delicada
sonoridade urdida por Mariano - com alguns elementos afros, sobretudo por conta
dos vocais destacados de Silvera em faixas como Santana, do pernambucano
Junio Barreto - passa longe da vanguarda.
Como sinaliza a pose da capa, Hoje é um disco calmo, quase contemplativo, ora mais melancólico (como em Pra que Cantar?, samba de Nuno Ramos, e como em Luto, o inédito sambossa de Caetano Veloso), ora até bossa-novista (como em Os Dois, em que o baiano Moisés Santana cita na letra alguns clássicos da velha bossa). Até Moreno Veloso, artista identificado com a linguagem experimental, surpreende e comparece com uma canção formal (a faixa-título) e um samba delicioso (Um Passo à Frente, com Quito Ribeiro). Aliás, nos sambas, como Jurei (de Nuno Ramos e Clima), o suingue dos arranjos evoca discos de Elis Regina nos anos 70, não por acaso produzidos por Mariano.
Entre três parcerias do africano Lokua Kanza com Carlos Rennó (Te Adorar, Mar e Sol e Sexo e Luz), há uma melodia quebrada de Chico Buarque, letrada por seu novo parceiro José Miguel Wisnik. Embebedado, a música, é até formalmente mais ousada do que os temas dos autores supostamente "novos". Nesse sentido, o mais experimental é o baiano Tito Bahiense, autor de Logus Pé, a faixa mais "moderninha" de um disco que abriga o suingue afro-caribenho na deliciosa Voyeur, do também baiano Péri. Enfim, Hoje é um dos melhores e mais arejados discos de Gal Costa, mas não descaracteriza o canto da eterna diva tropicalista.
Como sinaliza a pose da capa, Hoje é um disco calmo, quase contemplativo, ora mais melancólico (como em Pra que Cantar?, samba de Nuno Ramos, e como em Luto, o inédito sambossa de Caetano Veloso), ora até bossa-novista (como em Os Dois, em que o baiano Moisés Santana cita na letra alguns clássicos da velha bossa). Até Moreno Veloso, artista identificado com a linguagem experimental, surpreende e comparece com uma canção formal (a faixa-título) e um samba delicioso (Um Passo à Frente, com Quito Ribeiro). Aliás, nos sambas, como Jurei (de Nuno Ramos e Clima), o suingue dos arranjos evoca discos de Elis Regina nos anos 70, não por acaso produzidos por Mariano.
Entre três parcerias do africano Lokua Kanza com Carlos Rennó (Te Adorar, Mar e Sol e Sexo e Luz), há uma melodia quebrada de Chico Buarque, letrada por seu novo parceiro José Miguel Wisnik. Embebedado, a música, é até formalmente mais ousada do que os temas dos autores supostamente "novos". Nesse sentido, o mais experimental é o baiano Tito Bahiense, autor de Logus Pé, a faixa mais "moderninha" de um disco que abriga o suingue afro-caribenho na deliciosa Voyeur, do também baiano Péri. Enfim, Hoje é um dos melhores e mais arejados discos de Gal Costa, mas não descaracteriza o canto da eterna diva tropicalista.
Retirado do Blog "Notas Musicais" - Mauro Ferreira -- Setembro de 2005
Li muito ''Notas Musicais''.
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